Angola celebra hoje 50 Anos de Independência
Anastácio Sasembele - Luanda
Muito antes da presença colonial portuguesa, o actual território angolano era constituído por reinos e povos soberanos que desenvolveram sistemas políticos e culturais próprios. Entre eles destacam-se o Reino do Kongo, o Ndongo, o Bailundo, Tchiyaka e o Cuanhama, cujos líderes resistiram heroicamente às tentativas de dominação europeia desde o século XVI. Estas resistências iniciais simbolizam o primeiro grito de liberdade que viria a ecoar séculos depois nas lutas de libertação nacional.
Da colonização à proclamação da independência
Após cerca de 500 anos de colonização portuguesa, marcada por exploração, trabalho forçado e desigualdades profundas, o povo angolano iniciou uma luta organizada pela autodeterminação. Três movimentos de libertação nacional emergiram como protagonistas dessa epopeia: o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola).
Com o apoio de diversos países africanos e das potências da época, esses movimentos travaram uma longa guerra de libertação contra o colonialismo português, que culminou na proclamação da independência a 11 de Novembro de 1975, pelo Dr. António Agostinho Neto, primeiro Presidente da República de Angola. Na ocasião, Neto proferiu as célebres palavras: “A luta continua! A vitória é certa!”, simbolizando a esperança de um novo começo para o povo angolano.
A guerra civil e o desafio da reconstrução nacional
Entretanto, a independência foi seguida por um longo e devastador conflito interno. As divergências ideológicas entre os três movimentos — intensificadas pela Guerra Fria e pela influência de potências estrangeiras — mergulharam o país numa guerra civil que perdurou por 27 anos, de 1975 a 2002. Este período marcou profundamente a história de Angola, provocando milhões de vítimas, deslocamentos e atrasos significativos no desenvolvimento económico e social.
A paz definitiva chegou apenas em 2002, com a assinatura do Memorando de Entendimento do Luena, que pôs fim ao conflito armado e abriu caminho para uma nova era de reconstrução nacional. Desde então, Angola tem procurado consolidar a paz, promover a reconciliação e investir na reabilitação das infra-estruturas destruídas pela guerra.
23 anos de paz: os desafios do presente
Passadas mais de duas décadas de estabilidade, o país procura erguer-se enfrentando desafios políticos, sociais, culturais e económicos. O nacionalista Amadeu Amorim, de 88 anos, que esteve preso em 1959 pela polícia política portuguesa (PIDE) no célebre “Processo 50”, recorda que a Angola de hoje ainda não corresponde plenamente aos sonhos dos combatentes da liberdade.
Em entrevista à Emissora Católica de Angola, Amorim defendeu o investimento na agricultura e na formação profissional da juventude como pilares essenciais para um desenvolvimento sustentável. Referiu ainda que as recentes manifestações sociais, como as reivindicações de Julho último que culminaram em incidentes trágicos durante a greve dos taxistas, revelam a urgência de políticas eficazes de combate à fome e à pobreza.
A voz da juventude e a celebração dos 50 anos
Nas comemorações do cinquentenário, muitos jovens manifestam-se por melhores condições de vida, exigindo emprego, educação, saúde, alimentação e habitação digna. Em várias províncias, as manifestações pacíficas reflectem o desejo de maior inclusão social e oportunidades equitativas, embora algumas tenham sido reprimidas pelas forças policiais.
Cerca de 45 delegações estrangeiras e dez mil convidados nacionais participam das festividades oficiais, que decorrem sob o lema “ Angola 50: Preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor”.
Para o Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, “celebrar 50 anos de independência é um acontecimento único e histórico, que deve inspirar cada angolano a valorizar o legado dos que lutaram pela libertação e a contribuir para o progresso do país”.
O legado e o futuro
Cinco décadas após a proclamação da independência, Angola continua a escrever a sua história, marcada por coragem, resiliência e esperança. O país celebra não apenas a libertação do colonialismo, mas também a conquista da paz e o esforço contínuo por um futuro de prosperidade e justiça social, o verdadeiro sonho dos seus heróis nacionais.
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