COP30: concluída a Cúpula dos Povos, “uma chave de esperança”
Padre Modino e Silvonei José – Belém
A presença da Igreja Católica na Cúpula dos Povos que se realizou durante a COP30, em Belém, foi para o bispo da diocese de Brejo (Maranhão), e presidente da Comissão para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom José Valdeci Santos Mendes, muito importante, “no sentido de testemunho, de compromisso com os marginalizados e marginalizadas”. Neste domingo (16/11), dia em que a Igreja católica celebrou a Jornada Mundial dos Pobres, dom José Valdeci enfatizou que “isso requer de nós um testemunho, um compromisso e uma luta pela vida. E eu diria – continuou ele -, que essa luta pela vida é luta pelo território livre dos povos, é luta pela dignidade, é luta pelo direito, é luta para que a justiça social, a justiça socioambiental seja de fato realizada no nosso meio”.
Dom Valdeci ressaltou que “as pastorais sociais, os organismos do povo de Deus têm esse grande compromisso de assumir a luta juntamente com os movimentos populares, com aqueles e aquelas que lutam por vida, vida humana e vida do Planeta”. Nessa perspectiva, quando o Brasil acolhe a COP30, o bispo insistiu que “a Igreja católica precisa ouvir mais as comunidades tradicionais, os povos originários e aprender também, ter essa humildade de aprender, para que, de fato, possa cumprir o seu papel e testemunhar Cristo. Cristo que sofreu, Cristo que foi perseguido, e também assim são os nossos povos e nossas comunidades”.
Enfim, o bispo da diocese de Brejo, disse que “precisamos assumir cada vez mais, ouvindo o grito de tantos irmãos e irmãs, que ainda hoje são torturados, são marginalizados. Precisamos dar esse passo no compromisso e fidelidade ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
A voz de Raoni Metuktire
A clausura da Cúpula dos Povos contou com a presença de uma das maiores lideranças indígenas do Brasil e do mundo, Raoni Metuktire. O indígena do povo Kayapó, que foi recebido pelo Papa Francisco no Vaticano, pediu união entre todos, fazendo um apelo pela “continuidade, para que possamos lutar contra aqueles que querem o mal neste universo, querem destruir esta terra”. Diante das mudanças climáticas, das guerras, ele pediu o respeito de um pelo outro, e de poder viver em paz nessa terra. Junto com isso, o cacique Raoni pediu que seja dada “continuidade nessa missão de poder defender a vida”.
O cacique do povo Kayapó solicitou diálogo com as autoridades, com os estados, em vista de acabar com o desmatamento, o garimpo e a exploração da terra. Ele pediu proteção e cuidado aos povos indígenas, sobretudo na área da saúde. Finalmente, Raoni refletiu sobre as consequências das mudanças climáticas, advertindo sobre o caos muito grande que pode acontecer “se não tivermos a consciência de defender o que resta”.
Declaração da Cúpula e Carta da Infância
A Cúpula dos Povos elaborou uma declaração onde mostra sua disposição para assumir “a tarefa de construir um mundo justo e democrático, com bem viver para todas e todos”, ressaltando que “somos a unidade na diversidade”. O texto afirma que “não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidados”. Para isso apostam nos “intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade”. Um texto que analisa a realidade atual em sete pontos para depois fazer 15 propostas. Para avançar nesse caminho, foi feito um chamado a unificar forças mediante a organização dos povos.
Também foi apresentada a Carta da Infância na Cúpula dos Povos. O texto denuncia o aumento da temperatura e suas consequências na vida das crianças. O documento afirma: “nós somos natureza, o planeta é natureza. A natureza é tudo!”, e pede “um futuro bonito para viver”.
Para isso ,“temos que cuidar e proteger a AMAZÔNIA”, destacam as crianças, que fazem uma longa lista de propostas e exigências, dado que “queremos continuar vivos e vivas! Crescer num mundo bonito, num mundo que ainda respire. Com esperança e sem medo!”
Levar em conta a sociedade civil
Tanto a declaração como a carta foram apresentadas ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e ao Governo Federal do Brasil, representado pelas ministras Sônia Guajajara, Marina Silva e o ministro Guilherme Boulos. Corrêa de Lago recordou o pedido do presidente Lula à COP30 de levar em conta a sociedade civil. Nesse sentido, ele destacou a importância dos textos, que serão levados à reunião de alto nível onde são tomadas as decisões.
Sônia Guajajara insistiu que a democracia precisa da participação do povo, que deve ser escutado. A ministra dos Povos Indígenas definiu os participantes da cúpula como “os maiores guardiães da vida, seja no território, seja nas periferias das grandes cidades, dos quilombos”. Ela enfatizou a presença indígena na Zona Azul, com mais de 900 representantes, que ajudam a mudar o foco das discussões.
Mensagem do presidente Lula
A ministra Marina Silva leu a mensagem do presidente Lula à Cúpula dos Povos. Ele afirma: “a COP30 não seria viável sem a participação de vocês”, dado que “o combate à mudança do clima precisa da mobilização e contribuição de toda a sociedade, não só dos governos. O entusiasmo e o engajamento de vocês são fundamentais para que possamos seguir nessa luta. Vocês são portadores da força e da legitimidade dos que almejam o melhor”.
O presidente do Brasil insistiu na urgência da mudança e defendeu o desenvolvimento sustentável, e “um mundo em paz, mais solidário, menos desigual, livre da pobreza, da fome e da crise”. É por isso que “não podemos adiar as decisões que estão sendo debatidas há tantos anos”. Para isso, ele pediu “mapas do caminho para que a humanidade, de forma justa e planejada, supere a dependência dos combustíveis fósseis, pare e reverta o desmaiado e mobilize recursos”. Daí que “não podemos sair de Belém sem decisões”, o que faz com que as negociações até o final da COP sejam fundamentais, um espaço onde ele irá participar.
Uma chave de esperança
Marina Silva relatou sua história de vida na Amazônia, marcada em sua infância pela pobreza e o trabalho semiescravo. A ministra relatou alguns elementos que fazem parte da atual realidade climática e os esforços do governo brasileiro para diminuir os incêndios e o desmatamento. Finalmente, ela fez um apelo ao envolvimento de todos no cuidado do meio ambiente, e disse ver a Cúpula dos Povos como “uma chave de esperança”.
Guilherme Boulos mostrou sua alegria diante das Marcha dos Povos realizada no sábado 15 de novembro, com a participação de mais de 70.000 pessoas. Segundo o ministro da Secretaria Geral da Presidência “vocês fizeram e estão fazendo a diferença nessa COP”. Ele parabenizou o presidente da COP30 por ter ido escutar os apelos da Cúpula dos Povos. Boulos denunciou a responsabilidade das grandes corporações e dos Países do Norte Global diante da atual realidade climática.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui