Bispo de Hiroshima: natureza desumana do nuclear deve ser desmascarada
Guglielmo Gallone – Vatican News
"A Igreja católica nas cidades bombardeadas tem o dever de rezar, elevar a voz e agir em resposta aos desejos dos sobreviventes, agora idosos." O bispo de Hiroshima, Alexis Mitsuru Shirahama, compartilhou com a mídia vaticana um texto que resume suas esperanças e reflexões em um dia tão simbólico como o octogésimo aniversário dos bombardeios atômicos lançados pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki. E traça a imagem de uma Igreja consciente sim de uma tragédia, mas também de um legado: "Como comunidade cristã ativa nas áreas atingidas pela bomba", diz ele, “sentimos profundamente essa responsabilidade e continuamos a interrogar-nos sobre nossa missão: o poder destrutivo das armas nucleares hoje excede em muito o das bombas lançadas há 80 anos. O problema não é mais apenas o número de ogivas. Mesmo um único dispositivo nuclear teria consequências devastadoras inimagináveis para a humanidade e o meio ambiente. Devemos compartilhar com o mundo as histórias daqueles que sofreram danos durante a produção e o desenvolvimento de armas nucleares e oferecer-lhes apoio”.
A ameaça nuclear hoje
Estas são palavras corajosas diante de um contexto geopolítico que fala da erosão do regime de não proliferação: em 2024, pela primeira vez, os gastos das nove potências nucleares do mundo ultrapassaram a marca de 100 bilhões de dólares, conforme revelado pela Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares. 3.169 dólares por segundo, 274 milhões de dólares por dia e 1,9 bilhão de dólares por semana: gastos semelhantes poderiam ter alimentado, por quase dois anos, os 345 milhões de pessoas que enfrentam os níveis mais graves de fome no mundo. Além disso, a crise internacional parece estar se espalhando para a opinião pública: a pesquisa ECFR de junho passado revelou que 60% dos poloneses, 62% dos portugueses e 54% dos espanhóis apoiam a ideia de uma dissuasão nuclear nacional. Enquanto 14% dos alemães eram a favor do nuclear em 2021, esse número agora subiu para 39%. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a Itália tem 32.663,1 metros cúbicos de resíduos radioativos, um aumento de 5% em relação a 2022. E há outro risco, destacado por dom Shirahama: "Além dos cinco Estados com armas nucleares que são parte do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), outros países equipados com armas nucleares estão se afirmando, e um ulterior desarmamento está se tornando cada vez mais difícil. Diante da teoria da dissuasão, que justifica a posse de armas nucleares, devemos desmascarar a natureza desumana das armas nucleares, rezar por sua abolição, dialogar e agir em conjunto."
Uma peregrinação de paz
A passagem das palavras aos atos é imediata e se baseia em um caminho a ser percorrido juntos: dom Shirahama relata o encontro realizado na terça-feira, 5 de agosto, do qual participaram dom Francesco Escalante Molina, núncio apostólico no Japão; o cardeal Robert Walter McElroy, arcebispo de Washington; o cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago; os bispos de Incheon, Uijongbu e Chuncheon (Coreia do Sul); o cardeal Tarcisius Isao Kikuchi, arcebispo de Tóquio; e outros bispos japoneses. Sobretudo, estiveram presentes vários hibakusha, "aqueles atingidos pelo bombardeio". A peregrinação, que começou na terça-feira na Catedral Memorial da Paz Mundial em Hiroshima, será concluída em 10 de agosto com um diálogo ecumênico e um simpósio acadêmico na Catedral de Urakami, em Nagasaki. "Em 2023 - afirma dom Shirahama - estabelecemos a Aliança por um Mundo Sem Armas Nucleares (PWNW) com a Arquidiocese de Santa Fé e de Seattle, entre as mais afetadas nos EUA, e com a Arquidiocese de Nagasaki, iniciando um caminho comum rumo a um mundo sem armas nucleares". Na declaração conjunta lida na terça-feira, os signatários reiteraram sua rejeição a "qualquer justificativa que apresente os bombardeios atômicos como um meio para pôr fim a uma guerra", comprometendo-se a "ampliar internacionalmente o círculo da paz e da solidariedade".
As vozes dos Papas
Fundamentais nesse sentido foram as mensagens dos pontífices que, nas últimas décadas, têm dedicado cada vez mais atenção ao destino dos locais atingidos e profundamente afetados por atos tão brutais: "Tanto o Papa João Paulo II, em 25 de fevereiro de 1981, quanto o Papa Francisco, em 24 de novembro de 2019, visitaram Hiroshima lançando fortes apelos pela abolição das armas nucleares, e esta quarta-feira o Papa Leão também nos enviou uma mensagem", continua dom Shirahama. "Nossa missão se baseia nos três mandamentos éticos lançados pelo Papa Francisco em seu discurso no Parque Memorial da Paz de Hiroshima em 24 de novembro de 2019: recordar os danos causados pelo nuclear, caminhar juntos para prevenir novos desastres e proteger contra as ameaças nucleares.
O compromisso da Conferência Episcopal Japonesa
Este compromisso está longe de ser isolado, como demonstra a declaração dos bispos católicos do Japão sobre a abolição das armas nucleares, publicada em junho passado: "Como seguidores do Evangelho de Cristo, escolhemos buscar a paz por meio do diálogo e garantir o respeito à vida e à dignidade de todas as pessoas. Portanto, pedimos a abolição completa das armas nucleares", escreveram os bispos, porque "o mundo deve poder escolher uma paz livre de armas nucleares".
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