Um momento da apresentação do projeto “Portas da Esperança” Um momento da apresentação do projeto “Portas da Esperança” 

"As Portas da Esperança", um caminho de renascimento para os detentos

Oito prisões italianas e duas portuguesas participam do projeto criado pela Pontifícia Fundação Gravissimum Educationis. A iniciativa, apresentada na Sala de Imprensa da Santa Sé, envolve a criação de uma entrada artística que nascerá de uma colaboração entre a comunidade penitenciária e uma figura proeminente do mundo da cultura.

Eugenio Murrali – Vatican News

A porta, como espaço concreto e simbólico que favorece o encontro, a comunicação entre a prisão e a vida exterior, e a passagem do desespero para a esperança. Este é o caminho empreendido pela Pontifícia Fundação Gravissimum Educationis do Dicastério para a Cultura e a Educação. A iniciativa "Portas da Esperança", promovida pela fundação, criará "portas" artísticas, monumentos que serão colocados nas entradas das penitenciárias como um sinal visível aos cidadãos de uma possível relação entre sociedade e mundo carcerário.

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"É no espírito do Jubileu e na visão do Papa Leão XIV, como se vê na Exortação Apostólica Dilexi te", afirmou o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, cardeal José Tolentino de Mendonça, "que se manifesta o desejo de continuar abrindo portas, abrindo gestos e despertando consciências que possam dar corpo a uma verdadeira e necessária pedagogia da esperança".

Cardeal Tolentino e os planos do Dicastério para o sistema prisional

A Cruz como porta de entrada

Davide Rampello, curador do projeto, explicou que as portas serão feitas com os três materiais da Cruz de Cristo: madeira, metal e pedra. As cidades e personalidades envolvidas na iniciativa são Veneza, com o diretor de cinema Mario Martone, Milão, com o designer Michele De Lucchi, Roma, com o pintor e escultor Gianni Dessì, Nápoles, com o artista Mimmo Palladino, Palermo, com o chef Massimo Bottura, Lecce, com o designer Fabio Novembre, Reggio Calabria, com a astrofísica Ersilia Vaudo; e Bréscia, com o arquiteto Stefano Boeri. O diálogo entre estas figuras culturais e a comunidade carcerária também dará vida à criações, graças a uma espécie de "oficina renascentista" que o projeto colocará à disposição, com o apoio da Fundação Cariplo, da qual o presidente Giovanni Azzone participou através de vídeo. A Ministra da Justiça portuguesa, Rita Júdice, também participou remotamente da coletiva. Em Portugal, serão realizadas duas residências artísticas nos cárceres juvenis de Leiria e Tires. A ministra enfatizou a importância da arte na preparação dos reclusos para uma nova vida, uma vez que toda instituição prisional visa ressocializar os reclusos e ajudá-los a reintegrar-se no mercado de trabalho.

Davide Rampello explica o projeto "Portas da Esperança"

Quando o sofrimento se torna expressão

As Portas da Esperança contam com a colaboração essencial do Departamento de Administração Penitenciária do Ministério da Justiça da República Italiana, chefiado por Stefano Carmine De Michele, que observa: "Para nós, as Portas da Esperança são muito mais do que uma iniciativa artística; é um caminho. Um caminho que atravessa simbolicamente os muros da prisão, abrindo-os à luz do diálogo, da escuta, da beleza e, acima de tudo, do respeito pela dignidade humana." De fato, o propósito da detenção é a reinserção social, conforme previsto pela Constituição italiana, e não apenas a execução de penas. Ao dialogar e colaborar com artistas, os presos poderão, segundo De Michele, "reelaborar positivamente sua experiência prisional, dar forma às suas experiências interiores e, assim, transformar o sofrimento em expressão". A conexão entre cárcere e sociedade será, portanto, "um limiar entre o passado e o possível, entre o erro e a mudança, entre o isolamento e o retorno à comunidade".

Monsenhor Milani sobre o significado da porta como sinal de esperança

A possibilidade de um encontro

Monsenhor Davide Milani, secretário-geral da Pontifícia Fundação Gravissimum Educationis, lembrou que a etimologia da palavra "porta" remete ao significado de "passagem", o mesmo termo subjacente a "porto", e evoca dinamismo em vez de imobilidade. "A porta", observou monsenhor Milani, "é um instrumento para salvaguardar o que merece ser protegido — uma casa, um escritório, uma escola, um hospital, uma igreja — mas convida, sob certas condições, a ser atravessada, a entrar, a viver, devidamente transformado, em uma relação". Atravessar, como acontece com os peregrinos do Jubileu, é um convite à mudança, que nos lembra o Evangelho de João: "Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá, e encontrará pastagens" (Jo 10, 9).

O artista Gianni Dessì construirá uma porta em uma prisão romana

Escuta

Gianni Dessì, o artista que animará a criação da porta da prisão Regina Coeli, em Roma, sente o peso da responsabilidade de um compromisso tão importante: "É preciso um sinal com um significado profundo, e acredito que isso me levará, acima de tudo, à escuta". Os encontros com pessoas nas instituições prisionais serão cruciais para definir o percurso e enriquecê-lo com conteúdo, porque, alerta ele, "a arte pode ser pobre, mas não deve ser miserável", e a relação viva que emergirá do encontro dará a substância principal à obra artística. Para Enrico Farina, diretor da prisão de Santa Maggiore, em Veneza, que está envolvida neste caminho, graças à metáfora da porta, os detentos poderão "olhar além da linha da sombra".

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09 outubro 2025, 09:48