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Schevchuk: na Ucrânia, a Rússia criou o maior campo minado do mundo

Hoje podemos examinar a nossa consciência sobre o quanto vivemos a celebração do Natal deste ano. Se não foi perdido, não foi esquecido por nossas várias preocupações humanas. Mesmo em meio à guerra, o Natal foi para nós uma época em que recuperamos nossa força espiritual para continuar o caminho rumo à dignidade, para defender nossa Pátria, nossa terra, nosso povo, a vida humana na Ucrânia.

Cristo nasceu!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, hoje é sexta-feira, 13 de janeiro de 2023 e na Ucrânia já é o 324º dia de agressão militar em grande escala, da grande guerra que a Rússia trouxe para nossa terra sofrida.

O dia de ontem e a noite passada também foram infernais para a Ucrânia. No front oriental, está em chamas o chamado "arco Donbass". Todas as cidades, a começar pela cidade de Kreminna, região de Luhansk, e depois Soledar, Bakhmut e Avdiivka estão sob fogo contínuo. O seu território é o maior epicentro deste conflito militar, já definido como o mais numeroso e intenso confronto militar na Europa após a Segunda Guerra Mundial.

O inimigo, de forma inipterrupta, bombardeia nossas cidades e vilarejos com todo tipo de armamento. Pelo menos três ataques com foguetes foram realizados ontem em nossas cidades de Zaporizhzhia, Kramatorsk e Konstantynivka. Na verdade, de acordo com novos dados que recebemos ontem, 97% de todos os ataques com mísseis da Rússia à Ucrânia foram direcionados contra civis e infraestrutura civil.

Atualmente, um terço do território ucraniano está minado. Pode-se dizer que a Rússia criou o maior campo minado do mundo na Ucrânia. Dezenas de crimes de guerra cometidos pelos ocupantes russos em nossas terras são registrados todos os dias. Até o momento, as organizações internacionais registraram oficialmente mais de 63.000 crimes de guerra oficialmente documentados, em conformidade com todas as regras internacionais. Mas sabemos que ainda existem centenas ou mesmo milhares de casos semelhantes, e nem todos foram estudados e documentados.

Agradecemos a Deus por cada prisioneiro de guerra e refém libertados. Desde o início da guerra, a Ucrânia conseguiu libertar 1.646 prisioneiros de guerra. Todos eles falam de atrocidades, torturas, fome, chegam como verdadeiros esqueletos vivos e requerem atenção, cuidado e apoio especiais. Entre os libertados estavam 132 civis e mais de 1.500 militares. Mas ainda há muitos outros que a Rússia mantém em prisões e campos de concentração, submetidos a severas torturas, negando-lhes todo o acesso a instituições internacionais para uma simples visita. Atualmente, 50% de toda a infraestrutura de energia da Ucrânia está danificada, e isso acontece no pico da estação fria.

Mas hoje podemos dizer: a Ucrânia resiste! A Ucrânia luta! A Ucrânia reza!

E agradecemos ao Senhor Deus e às Forças Armadas da Ucrânia por estarmos vivos esta manhã, por podermos ver a luz mesmo quando está apagada. Podemos rezar, fazer o bem e assim contar ao mundo inteiro a verdade sobre o que está acontecendo na Ucrânia.

Hoje, segundo os ritmos litúrgicos das igrejas de tradição bizantina, vivemos o último dia após a festa da Natividade de Cristo, ou seja, hoje resumimos tudo o que aprendemos, vivemos, realizamos e aprendemos com este grande festa cristão. Hoje damos graças ao Senhor Deus por ter aprofundado o significado do grande acontecimento do nascimento do Filho de Deus entre nós. A cada dia procuramos refletir sobre alguns elementos muito importantes desta celebração. E lembramos que no nascimento de Cristo aconteceu o evento da restauração da pessoa humana. Foi um acontecimento que diz respeito não só a Deus, mas sobretudo a nós: a pessoa, o seu ser, as relações humanas. O homem se tornou uma nova criação em Cristo. Houve um fato interessante de troca de presentes. “Deus se fez homem para que o homem pudesse se tornasse Deus”, diziam os Padres da Igreja. O Eterno nasceu no tempo para que nós, dominados pelos limites deste mundo, pudéssemos entrar na eternidade.

Deus quis fazer-se pobre, o menor de todos os homens, para nos enriquecer, para que por meio dele tivéssemos acesso a toda a plenitude, à plenitude da vida. O Senhor Deus em seu Natal tornou-se o centro da história humana. Vimos como na Natividade de Cristo se cumpriram a lei e os profetas, as promessas de Deus do Antigo Testamento - tudo pelo que viveu e lutou o povo de Israel do Antigo Testamento. Vimos que no Natal, Cristo revelou ao homem a eternidade de Deus: o eterno "hoje" de Deus. Do mesmo modo, no Natal de Cristo vemos o sentido do futuro, um futuro nada assustador. O futuro de cada pessoa é Cristo, aquele futuro que nos espera a todos é o encontro com Ele na glória. Assim como o encontramos hoje como uma criança nos braços de Maria, o encontraremos um dia como Aquele que virá em glória para julgar os vivos e os mortos. Mas será o mesmo Cristo, a mesma pessoa que hoje não quer ser temida, mas quer ser amada.

Na Natividade de Cristo vemos a glorificação do homem; vemos como Cristo nos revela o significado profundo das nossas relações humanas como se santificasse tudo aquilo que para nós é às vezes quotidiano e até mesmo às vezes desprezado. O Todo-Poderoso quis se tornar uma criança humana. Sabemos que na sociedade  humana a criança nunca é o membro mais respeitado. Muitas vezes as crianças são desprezadas, traficadas e mortas. E Cristo quis fazer-se criança para mostrar a dignidade de criança, para defendê-la na cultura de hoje. Cristo nos revela a santidade da família cristã e universal. Com efeito, não há outra família, não há outra forma de convivência entre as pessoas que se possa chamar de família senão a unidade e a fecundidade na fidelidade e no amor de um homem e de uma mulher. O que o mundo às vezes não compreende hoje, Cristo nos revela em seu Natal através das figuras de Maria e José.

No seu Natal, Cristo revela-nos a verdade sobre o homem e chama-nos à dignidade. A dignidade do homem, louvada no Natal pelo nascimento do Filho de Deus, é uma espécie de profunda boa nova que hoje é anunciada à humanidade por meio do nosso Salvador. O Salvador do mundo veio para glorificar o homem, para elevá-lo, para dotar nossa natureza humana caída com sua glória, dignidade e honra, tornando-a participante de seu ser divino, eterno e incorruptível. Este é o significado do Natal.

Hoje podemos examinar a nossa consciência sobre o quanto vivemos a celebração do Natal deste ano. Se não foi perdido, não foi esquecido por nossas várias preocupações humanas. Mesmo em meio à guerra, o Natal foi para nós uma época em que recuperamos nossa força espiritual para continuar o caminho rumo à dignidade, para defender nossa Pátria, nossa terra, nosso povo, a vida humana na Ucrânia.

Que Deus esteja conosco. Que Tua presença eterna torne-se "agora", hoje, entre nós. Deus, abençoe a família ucraniana! Inspire-a com amor por seus filhos, para que a família ucraniana seja o coração do futuro de nossa pátria. Assim como hoje, falando figurativamente, dizemos "Acreditamos nas Forças Armadas da Ucrânia!", Assim, depois do fim da guerra, ensine-nos a dizer: "Acreditamos na família ucraniana!" Porque hoje, em seu Natal, Tu nos mostra que a chave para o renascimento e a reconstrução da Ucrânia depois da guerra será uma união de amor frutífera, inseparável e fiel entre um homem e uma mulher. Deus, abençoe a Ucrânia com Sua paz celestial!

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade, agora e para todo e sempre, amém!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+

Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
13.01.2023

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13 janeiro 2023, 22:53