COP30, cardeal Spengler: Urge promover ética e esperança!
Cardeal Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho (Celam)
A presença Igreja Católica na COP30, em Belém, não se deu somente nos dias programados para este mês de novembro. Na verdade, o envolvimento da Igreja está caracterizado por um processo desenvolvido em nível Nacional, Continental latino-americano e caribenho, em profunda sintonia, sobretudo, com os continentes africano e asiático. A Carta do Sul Global, apresentada nesta COP30, é certamente um marco neste itinerário eclesial. Tal Carta encontrou acolhida, reconhecimento, promoção e gratidão para além do Sul global.
A questão do aquecimento global com suas consequências e desdobramentos não pode ser reduzida à busca de respostas parciais e urgentes, embora também necessárias!
Faz-se necessário, para além do modelo econômico dominante, um olhar distinto a partir das questões que as mudanças climáticas estão impondo. Urge políticas públicas apropriadas, programas educativos capazes de promover a consciência crítica, o desenvolvimento de estilo de vida apropriado, uma espiritualidade, ou mística, que dê sustentação ao que urgentemente precisa ser proposto. Há um ditado que diz o seguinte: “saco vazio não permanece em pé”. A necessidade de promover uma ecologia integral pressupõe, sim, conversão (termo central no Documento Final do último sínodo!), mas requer sobretudo espiritualidade consistente.
Dar-se conta da questão das mudanças climáticas, estar atentos aos dados da ciência, empenhar-se num caminho de conversão, alimentar as escolhas e decisões a partir de uma vigorosa espiritualidade: a tradição cristã e católica possui um patrimônio extraordinário neste âmbito! A própria comunidade de fé reza (lex orandi lex credendi) a dignidade da criação (início da Oração Eucarística III e IV; Prefácio da Criação…) - promover no seio das comunidades espaços e tempos de diálogo sobre o tema da Ecologia Integral. Empenhar-se em primeira pessoa na construção de dias, tempos melhores para as futuras gerações, é missão de todo batizado, de toda pessoa que se considera seguidor, seguidora do “homem que passou por entre nós fazendo o bem (At 9,38), e que fazia bem todas as coisas (Mc 7,37).
Os dias da COP30 em Belém reuniram distintas expressões da sociedade: povos indígenas, quilombolas, cientistas, formadores de opinião, estudantes, religiosos, empresários, políticos, diplomatas, etc. Contudo, para a implementação do necessário para mitigar as consequências do aquecimento global, com tudo o que subjaz à questão, se faz necessário homens e mulheres orientados, não por interesses escusos e/ou particulares, necessitamos de autênticos humanistas, ou se quisermos, estadistas!
Os desafios que a humanidade tem diante de si são enormes! Não há lugar para ideologias estranhas ao que está exigindo o melhor de todos! Urge promover ética e esperança!
Creio que pudemos sentir nos corredores dos pavilhões da COP, nos espaços externos de encontro e reflexão, nos momentos outros, o quanto tais questões envolvem a sociedade no seu todo!
Oxalá, não nos falte coragem, discernimento, determinação para construir caminhos para a promoção de uma autêntica Ecologia Integral!
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