O Cedro, árvore que custodia o tempo e o rosto do Líbano
Maria Milvia Morciano - Cidade do Vaticano
Durante a visita do Papa Leão XIV ao Líbano, seu olhar recai sobre o emblema mais antigo do país: o cedro. Árvore de longa memória, enraizada nas Escrituras, na história dos povos e na imaginação literária, acompanha o itinerário humano com sua forma imóvel e acolhedora, guardiã das estações.
Plantar hoje o que perdurou através dos séculos
Em 30 de novembro, estava previsto que Papa fosse com as autoridades ao jardim do Palácio Presidencial para plantar um "cedro da amizade". O mau tempo obrigou a uma mudança de planos: a cerimônia teve lugar no interior do Palácio, onde o Pontífice regou um jovem exemplar ainda no vaso. O gesto simples e direto manteve o seu significado original, chamando a atenção para aquilo que deve ser protegido e acompanhado ao longo do tempo, e a água derramada acrescentou um sinal de esperança.
As antigas florestas do Líbano
A cordilheira libanesa já foi coberta por uma densa extensão de cedros: quilômetros de um verde intenso. Dessas florestas provinha a única grande reserva de madeira em um vasto território. Casas, templos, esculturas, barcos: gerações de povos — egípcios, fenícios, cananeus, israelitas, babilônios, assírios, persas, gregos e romanos — se apropriaram desse patrimônio, que foi gradativamente diminuindo sob a pressão dos séculos.
Por milênios, sua madeira foi muito procurada. Os egípcios, por não possuírem árvores nativas do tamanho necessário, buscavam o cedro para construir navios, templos e casas. Plínio, o Velho, registra o uso de sua resina em ritos de mumificação. Navios destinados à vida após a morte eram frequentemente construídos inteiramente de madeira de cedro. A demanda contínua levou à perda progressiva das florestas antigas, a ponto de, em 118 d.C., o imperador Adriano ter emitido um édito de proteção, uma das primeiras medidas ambientais da história.
O Cedro nas Escrituras
Nas Escrituras, o cedro é uma imagem de força e firmeza. O Salmo 92 afirma: "Os justos crescerão como o cedro no Líbano". Em Juízes 9,15 o convite: "Venham, refugiem-se à minha sombra". Ezequiel fala de uma árvore sob a qual "todas as aves do céu" encontram abrigo. É uma memória antiga que vê essa árvore como um lugar de proteção, uma presença que observa e vigia sem alarde.
Ressonâncias na tradição judaica
Também na literatura rabínica, o cedro aparece como um lugar de proteção e de provação. Algumas coleções antigas narram que o profeta Isaías, perseguido pelo rei Manassés, refugiou-se no tronco de um cedro; um canto de sua túnica o traiu, e a árvore foi cortada.
É uma imagem que perdurou através dos séculos: o cedro como abrigo e, ao mesmo tempo, como um testemunho silencioso de lealdade ferida. Entre as árvores mediterrâneas, está entre as mais longevas: pode viver até dois mil anos, crescendo apenas alguns centímetros a cada estação. Sua imponência não é resultado de pressa, mas do tempo lentamente depositado na madeira, camada após camada, como uma memória que demora a se revelar.
O Templo, a realeza, a promessa
A Bíblia relata que a madeira de cedro foi usada para o Templo de Jerusalém e que o rei Salomão revestiu o interior com cedro: "Tudo era de cedro, e não se via uma pedra sequer." É uma imagem de pureza e continuidade, a mesma que levou muitos povos a reconhecerem nesta árvore um símbolo de estabilidade. Diz-se que até o labirinto de Minos era sustentado por colunas de cedro.
Presenças Italianas
Trazido para a Europa entre os séculos XVIII e XIX, o cedro-do-líbano também encontrou morada na Itália, onde alguns exemplares centenários ainda adornam parques históricos e jardins majestosos. Na Toscana, Piemonte, Emília-Romanha e Sardenha, crescem árvores imponentes, que ecoam suas paisagens nativas em sua arquitetura vegetal. Essas presenças, embora distantes do Levante, preservam a mesma sensação de dignidade e tranquilidade.
Símbolo de uma nação
Na paisagem libanesa, o cedro é uma presença inseparável. Não apenas uma árvore, mas um símbolo de identidade, memória coletiva e direção moral. É o centro da bandeira nacional e, durante séculos, foi inclusive aceito como pagamento de impostos no Império Otomano.
O cedro na bandeira
Na bandeira libanesa, o cedro ocupa o centro da faixa branca — uma cor que evoca a neve das montanhas e a busca pela paz — enquanto as duas faixas vermelhas se referem ao sangue derramado pela liberdade.
A presença da árvore, introduzida já no século XVIII pelas comunidades maronitas e posteriormente adotada por movimentos nacionais, afirma a continuidade de um símbolo que atravessa história, fé e identidade. O cedro também aparece no logotipo e nas medalhas da viagem apostólica do Papa Leão XIV, confirmando sua centralidade na memória do país e na visão da Igreja para esta visita.
Literatura: das vozes antigas às narrativas contemporâneas
O cedro não é apenas botânica e história: é uma presença narrativa. Grazia Deledda, em seu conto "O Cedro do Líbano", o descreve como uma árvore de lentidão e esperança: "É uma planta que dura milhares de anos e, precisamente em seu centésimo ano, floresce pela primeira vez... deve ser tão bela e grande quanto uma bandeira azul. Dizem que nas colinas de Jerusalém ainda existe um cedro sob o qual Jesus caminhava com seus discípulos em noites de verão iluminadas pela lua."
É a imagem de uma árvore que observa o Evangelho do alto de seu silêncio. Na ficção contemporânea, o cedro retorna com Raffaella Romagnolo, vencedora do Campiello Natura deste ano. Aqui, a árvore se torna a companheira de quatro histórias distantes, cada uma lidando com uma jornada difícil, enquanto o cedro segue sua própria ascensão da semente à árvore madura.
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