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Pe.  Lício de Araújo Vale – Diocese de São Miguel Paulista - SP. Pe. Lício de Araújo Vale – Diocese de São Miguel Paulista - SP. 

Padre Lício: A paciência

Na tradição cristã a paciência é fruto do Espírito (cf. Gl 5,22), como capacidade de suportar e tolerar quem causa aborrecimento e suscita conflitos. Na tradição bíblica, Deus é descrito como “lento para a ira e rico em misericórdia”. ( Sl 103, 8). A paciência, portanto, não é apenas uma disciplina humana, mas uma entrada no ritmo divino.

Padre Lício de Araújo Vale – Diocese de São Miguel Paulista - SP

Vivemos num mundo sem paciência. Se observarmos bem perceberemos que a maioria de nós vive na impaciência.

Os tempos acelerados que vivemos suscitam a impaciência, o não adiamento, o “agora é já”, a pressa que mais dá lugar a espera.

A paciência não consiste apenas em tolerar, no sentido de suportar, o que é pesado, ela é uma virtude das pessoas que alcançaram a maturidade e tem autocontrole emocional.

 Se nós compreendêssemos melhor os outros, compreenderíamos também por qual caminho eles tiveram que passar para chegar aonde chegaram e isso nos tornaria mais pacientes e benevolentes.

Mas, antes de falar de paciência, vamos dar uma olhada na nossa impaciência quando esperamos na fila (seja ela qual for), quando esperamos o ônibus ou um prato no restaurante... Esses exercícios práticos nos conduzem aos nossos pés! “Fique calmo!”, é o mesmo que dizer, “ponha o pé no chão” ou ‘” eu me enraízo”. Os outros estão aí, os outros existem, os outros resistem, o sofrimento ainda está aí e não é dizendo “não” que ele passará mais rapidamente, mas talvez dizendo “sim” àquilo que é.

A capacidade de suportar vem de Jesus e do evangelho. A paciência divina sobretudo no Antigo Testamento não é ausência de cólera, mas capacidade de elaborar, de domar, de criar tempos na espera entre ação e reação.

Na tradição cristã a paciência é fruto do Espírito (cf. Gl 5,22), como capacidade de suportar e tolerar quem causa aborrecimento e suscita conflitos.

Na tradição bíblica, Deus é descrito como “lento para a ira e rico em misericórdia”. ( Sl 103, 8).

A paciência, portanto, não é apenas uma disciplina humana, mas uma entrada no ritmo divino. Assumimos a cadência de Deus que respeita os processos, amadurece as promessas e nunca força a liberdade humana.

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Em uma cultura que valoriza respostas imediatas, a paciência se torna uma forma de resistência: uma escolha consciente por não se deixar dominar pela ansiedade ou pela urgência artificial. Assim, ela protege o coração da exaustão, do desânimo e da perda de sentido.

A paciência é um tempo de gestação interior. O silêncio, a oração perseverante e a espera confiante constituem espaços em que a pessoa aprende a reconhecer a presença de Deus nos “entretantos” da vida – aqueles intervalos aparentemente vazios que, na verdade são lugares de transformação.

Ser paciente em certo sentido nada tem de abstrato, isto tem alguma coisa a ver com nossa respiração, com nossos pés. Ser paciente é voltar sobre seus próprios pés, enraizar-se, aterrissar, estar aí, não se deixar arrastar pela emoção. Após ter expirado profundamente, alguém é capaz de escutar o outro, é capaz de ser paciente. 

Viver a paciência diante da dor não é negar o sofrimento, mas aceitá-lo como parte do caminho, sem precipitar conclusões. A espiritualidade cristã vê nessa atitude uma participação no próprio mistério de Cristo: “com paciência, suportou a cruz”. O sofrimento pacientemente abraçado se converte, muitas vezes em sabedoria.

No fundo, a paciência espiritual é uma forma de esperança encarnada. Espera-se porque se acredita; persevera-se porque se confia. A paciência não é resignação, mas construção lenta do futuro. Ela indica que o bem tem seu tempo de maduração e que nada verdadeiramente precioso nasce sem espera.

Por isso ser paciente em nosso tempo além de virtude e de exercício espiritual também é sacrifício.

Somos convidados a agir como discípulos de Jesus, que tomou sobre si as nossas fraquezas e carregou nossas dores (Is 53,4). Busquemos ser mais pacientes e acolhedores conosco mesmo e com todos.

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12 dezembro 2025, 14:11