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Papa Leão XIV em Beirute, em 2 de dezembro de 2025. (©Foto de Andreas Solaro / AFP) Papa Leão XIV em Beirute, em 2 de dezembro de 2025. (©Foto de Andreas Solaro / AFP)

General da UNIFIL: visita do Papa nos confirma na nossa missão de paz

O papel da UNIFIL (Força Interina das Nações Unidas no Líbano) é manter a paz e a segurança na fronteira sul do Líbano, monitorando o cessar-fogo, ajudando o governo libanês a restabelecer sua autoridade, coordenando com as partes envolvidas para evitar conflitos e apoiando a população local com desminagem e ajuda humanitária, atuando como um elo crucial de comunicação e estabilização.

Gianluca Frinchillucci - Beirute

Num Líbano marcado por uma crise econômica devastadora, fragilidade institucional e um clima de crescente tensão ao longo da Linha Azul, a recente visita do Papa Leão XIV também representou um sinal poderoso para as forças de paz no país.

A refletir sobre o impacto da viagem apostólica, está o general de Divisão Diodato Abagnara, Comandante da Força e Chefe da Missão da UNIFIL, que lidera a operação de manutenção da paz das Nações Unidas no sul do Líbano.

A Itália desempenha um papel de liderança na Missão, com um contingente significativo e uma abordagem baseada na proximidade com as comunidades locais e na coordenação com as Forças Armadas Libanesas (LAF).

Em sua conversa com jornalistas no voo de volta de Beirute para Roma, o Papa Leão XIV também se referiu à "capacidade da Itália de atuar como intermediária em um conflito entre diferentes lados".

Segundo o general Abagnara, a visita do Pontífice certamente representou um gesto de encorajamento para os cristãos libaneses e para os militares italianos, e também um convite a todos para redescobrirem o valor do diálogo e da coexistência como chaves para uma estabilidade duradoura.

Na entrevista concedida à Agência Fides, o militar aborda o significado da visita papal, o papel da UNIFIL e a evolução do Mecanismo de Monitoramento do Cessar-Fogo, renovado após a Declaração de Cessação das Hostilidades em novembro de 2024.

Qual foi o significado da visita do Papa ao Líbano?

A visita do Papa teve um significado profundo, especialmente considerando o contexto em que ocorreu. O Líbano atravessa há anos um suceder de crises — econômicas, institucionais e sociais — às quais se soma hoje um forte clima de tensão em suas fronteiras. Em uma situação tão frágil, a presença do Santo Padre foi um sinal de preocupação e de reaproximação.

Muitos libaneses, independentemente de sua religião, perceberam uma mensagem simples, porém essencial: o Líbano não foi abandonado e continua sendo uma preocupação central para a comunidade internacional.

A visita também trouxe à tona o tema da coexistência libanesa, um equilíbrio complexo entre diferentes comunidades e sensibilidades. Os encontros do Papa com representantes de diversas religiões e da sociedade civil reiteraram um ponto claro: a estabilidade se constrói por meio do diálogo, não do confronto.

Sabemos que uma visita papal por si só não pode resolver os problemas do país. Mas, em um contexto tão frágil, mesmo uma breve trégua na tensão ajuda a reduzir os riscos e a reconstruir a confiança, recordando que ainda há espaço para a cooperação.

O que significou esta visita para as Forças Armadas Italianas?

Para as Forças Armadas Italianas, a visita do Santo Padre teve um significado especial, tanto humano quanto profissional. Operar no sul do Líbano significa trabalhar em um ambiente onde equilíbrio, prudência e continuidade são essenciais. Grande parte do nosso trabalho — patrulhas, monitoramento, coordenação com as Forças Armadas Libanesas, apoio às comunidades locais — não é visível.

Nesse contexto, ouvir o reconhecimento do papel dos "mantenedores da paz" foi um sinal direto de apreço. A presença do Papa foi vista como um reconhecimento do modelo italiano: uma presença credível e respeitosa, fundada na proximidade com as pessoas e no profissionalismo.

Em um contexto operacional caracterizado por riscos e cenários imprevisíveis, um gesto de atenção externa também se torna um fator de coesão interna. Muitos militares interpretaram a visita como um incentivo para continuarem com a mesma dedicação, sabendo que seu compromisso é visto e reconhecido tanto pelas comunidades locais quanto pelos atores internacionais.

Em suma, a visita confirmou o significado do nosso trabalho: garantir a estabilidade, prevenir a escalada do conflito e construir confiança. O Papa recordou um princípio fundamental: a paz não é apenas a ausência de guerra, mas também o encontro, a dignidade e a escuta. São precisamente estes os valores que orientam o nosso trabalho diário.

O que representam a UNIFIL e a contribuição italiana para o Líbano hoje?

A UNIFIL é hoje um pilar de estabilidade que o Líbano não pode perder. Num contexto em que a segurança pode mudar rapidamente, a Missão representa uma barreira à escalada e um canal constante de diálogo entre as partes.

O trabalho diário dos mantenedores da paz — monitorização, prevenção e gestão de tensões — é discreto, mas crucial para manter a calma ao longo da Linha Azul.

Dentro deste equilíbrio, a contribuição italiana desempenha um papel particularmente importante. A Itália é vista como uma presença sólida, fiável e respeitosa: um modelo de manutenção da paz que alia profissionalismo à capacidade de estabelecer relações autênticas com as comunidades locais. No sul do Líbano, ouvimos frequentemente: "Os italianos fazem com que não nos sintamos sozinhos". Este testemunho vai além do nível operacional.

Existe ainda um elemento estratégico: o trabalho conjunto com as Forças Armadas Libanesas. Cada atividade conjunta contribui para o fortalecimento das capacidades locais e, consequentemente, para a estabilidade geral do país. A segurança mais eficaz é construída em conjunto, passo a passo, por meio da confiança e da colaboração.

Que efeitos poderá ter o crescente papel dos EUA no Ceasefire Monitoring Mechanism ("Mecanismo de Monitoramento do Cessar-Fogo")?

Nos últimos dias, o compromisso dos EUA em apoiar o Mecanismo de Monitoramento do Cessar-Fogo tornou-se mais visível, com o objetivo de dar continuidade ao processo iniciado após a Declaração de Cessação das Hostilidades em 27 de novembro de 2024. Contudo, do ponto de vista operacional, não houve alterações para a UNIFIL nem para o Contingente Italiano: seus mandatos permanecem inalterados.

A inclusão de representantes civis nas delegações e a maior atenção dos EUA indicam uma tentativa de tornar essas reuniões mais adequadas para abordar questões políticas complexas. Por ora, trata-se de uma evolução que diz respeito mais ao quadro estratégico do que às atividades cotidianas no terreno.

É importante lembrar que o Mecanismo de Monitoramento do Cessar-Fogo é a evolução da Reunião Tripartite que, durante anos, reuniu as Forças Armadas Libanesas (LAF), o Exército Israelense (IDF) e a UNIFIL para tratar de questões técnicas ao longo da Linha Azul. Após 2024, sentiu-se a necessidade de um instrumento mais abrangente, capaz de também contemplar aspectos políticos: hoje, participam as Forças Armadas Libanesas (LAF), as Forças de Defesa de Israel (IDF), a UNIFIL, os Estados Unidos, a França e — a partir de 3 de dezembro de 2025 — um representante civil do governo libanês, o ex-embaixador Simon Karam. Trata-se de um fórum mais amplo, com mais vozes e maior capacidade de conectar os níveis operacional e diplomático.

Isso é muito diferente do Comitê Técnico Militar para o Líbano (MTC4L), uma missão italiana que opera com objetivos completamente distintos: treinar as Forças Armadas Libanesas e apoiar as instituições locais.

Para o sul do Líbano, o resultado dependerá da capacidade das partes de manter esse canal de negociação de forma construtiva. A experiência demonstra que, quando as partes dialogam — mesmo por meio de canais técnicos —, as tensões são administradas de forma mais ordenada e os incidentes podem ser contidos mais rapidamente.

Em resumo: na prática, nosso trabalho não muda, mas um mecanismo mais estruturado e inclusivo, apoiado por atores com capacidade de influência, pode promover maior previsibilidade e um clima de maior estabilidade no sul do Líbano." 

A UNIFIL

 

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano foi criada em 1978 pelo Conselho de Segurança da ONU após a primeira invasão israelense ao Líbano, com o objetivo inicial de confirmar a retirada das tropas israelenses. Após a retirada de Israel em 2000, a UNIFIL assumiu o controle da fronteira. Em 2006, seu mandato foi expandido pela Resolução 1701 do CS da ONU, reforçando seu papel na pacificação após o conflito Israel-Hezbollah.

As tropas podem usar a força em autodefesa e para proteger civis sob ameaça iminente, embora sua principal função seja a observação e prevenção. É composta por militares e policiais de diversos países, como Itália, França, Espanha, Indonésia e Brasil, com uma Força-Tarefa Marítima que monitora o litoral.

Entre os principais objetivos da Força Interina das Nações Unidas no Líbano está o patrulhamento da Linha Azul (fronteira com Israel) e da área entre esta e o Rio Litani, reportando violações; servir como canal de comunicação entre o exército libanês e o exército israelense para amenizar incidentes e prevenir escaladas; apoio ao Governo Libanês: auxiliar na restauração da autoridade do Estado no sul do Líbano; desativação de minas terrestres e prestação de socorro à população local.

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05 dezembro 2025, 08:05