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Basílica de São Pedro na Missa in Coena Domini, em 01/04/2021 Basílica de São Pedro na Missa in Coena Domini, em 01/04/2021 

O mistério do Espírito na Igreja

"O tempo da Igreja é o tempo do Espírito Santo, com cuja efusão ela surge e se expande, no dia de Pentecostes. É o Espírito Santo quem faz a Igreja acontecer na história quando os apóstolos reunidos em Pentecostes recebem os dons do alto. Para o evangelista São Lucas o tempo da Igreja é o tempo da manifestação e da ação do Espirito Santo (At 1,2.5.8.16;2,4.18). Assim o mostra pelas obras e atuação do Espírito, como autor dos Atos dos Apóstolos."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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“O tempo da Igreja teve início com a «vinda», isto é, com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos no Cenáculo de Jerusalém juntamente com Maria, a Mãe do Senhor. O tempo da Igreja teve início no momento em que as promessas e os anúncios, que tão explicitamente se referiam ao Consolador, ao Espírito da verdade, começaram a verificar-se sobre os Apóstolos, com potência e com toda a evidência, determinando assim o nascimento da Igreja. (João Paulo II - Encíclica Dominum et Vivificantem)”

"Igreja e Trindade no Vaticano II", "O Mistério do Filho na Sua Igreja", "O Mistério do Pai na Igreja": dando continuidade à sua série de reflexões sobre a Igreja, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre "O Mistério do Espírito na Igreja":

"A Igreja, a partir da Lumen Gentium, não pode ser pensada sem Jesus Cristo e sem o Espírito Santo, como condição para ela produzir frutos. O número 4 da constituição sobre a Igreja retrata muito bem essa consciência, porque a entende como a última determinação da Igreja. Diz assim a o número 4 da LG: “O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adoção de filhos (cfr. Gál. 4,6; Rom. 8, 15-16. 26). A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e a guia com diversos dons hierárquicos e carismáticos e a adorna com os seus frutos (cfr. Ef. 4, 11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22). Pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e a renova continuamente e a conduz à união perfeita com o seu Esposo. Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: «Vem» (cf. Apc 22,17). Assim a Igreja toda aparece como «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

 

Não existe dúvida que a teologia católica tem negligenciado, de certo modo, a função do Espírito Santo. No tratado da eclesiologia, de modo particular, tem se esquecido a atuação do Espírito Santo, alma da Igreja. Na teologia católica sobre a Igreja (eclesiologia) tem se desenvolvido mais a dimensão cristológica, ressaltando o aspecto institucional, enquanto que na teologia protestante e na ortodoxa têm se insistido na dimensão pneumatológica, com maior incidência na vida cristã e espiritual. Na nossa teologia, tem-se reduzido a missão do Espírito Santo à assistência à hierarquia. Essa perspectiva e negligência é superada pelo Concílio Vaticano II que coloca a missão do Espirito Santo em relevo na economia salvífica. As obras teológicas de Mühlen – “Una mystica persona” e de Congar – “El Espíritu Santo y la Iglesia” tem contribuído para a superação desta lacuna[1]. Na obra do teólogo Hamer “la Iglesia es una comunión”, o autor retrata que a Igreja do futuro precisa elaborar com maior profundidade a relação da Igreja com o Espírito[2].

O tempo da Igreja é o tempo do Espírito Santo, com cuja efusão ela surge e se expande, no dia de Pentecostes. É o Espírito Santo quem faz a Igreja acontecer na história quando os apóstolos reunidos em Pentecostes recebem os dons do alto. Para o evangelista São Lucas o tempo da Igreja é o tempo da manifestação e da ação do Espirito Santo (At 1,2.5.8.16;2,4.18). Assim o mostra pelas obras e atuação do Espírito, como autor dos Atos dos Apóstolos.

O Papa João Paulo II, na Encíclica Dominum et Vivificantem escreveu assim: “É deste modo que o Concílio Vaticano II fala do nascimento da Igreja no dia de Pentecostes. Este acontecimento constitui a manifestação definitiva daquilo que já se tinha realizado no mesmo Cenáculo no Domingo da Páscoa. Cristo Ressuscitado veio e foi «portador» do Espírito Santo para os Apóstolos. Deu-lho dizendo: “Recebei o Espírito Santo”. Isso que aconteceu então no interior do Cenáculo, “estando as portas fechadas”, mais tarde, no dia do Pentecostes, viria a manifestar-se publicamente diante dos homens”.

O teólogo Bueno acertadamente escreve que uma Igreja sem o Espírito Santo seria reduzida a máquina de poder e o Espírito sem a Igreja ficaria a uma teoria humana escrava das circunstâncias históricas[3]."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] H. MÜHLEN, El Espíritu Santo y la Iglesia, Salamanca, 1998; Y, CONGAR, El Espíritu Santo, Barcelona, 1983.

[2] J. HAMER, La Iglesia es una comunión, Barcelona, 1965, 181.

[3] E. BUENO, Eclesiología, Madrid, 1998.

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19 setembro 2022, 09:28